Em depoimento ao juiz Sergio Moro, testemunhas do caso do sítio de Atibaia, no qual Lula é investigado, relataram abusos de autoridade de integrantes da Operação Lava Jato durante uma operação de 2016, antes de o ex-presidente se tornar réu.
O eletricista Lietides Pereira Vieira, irmão de Élcio Pereira Vieira, caseiro do sítio conhecido como Maradona, afirmou que sua mulher e seu filho foram coagidos a prestar esclarecimentos sem serem intimados. Ele relata que o filho de 8 anos e a esposa foram obrigados a acompanhar policiais sem que lhes fosse apresentado um mandado.
A ação investiga se Lula recebeu cerca de 1 milhão de reais das empresas Odebreht, OAS e Schahin por meio de obras na propriedade, que era frequentada pelo ex-presidente e sua família. O Ministério Público acredita que o sítio pertence ao ex-presidente, embora esteja em nome do empresário Fernando Bittar.
Lietides relata que acordou às 6 horas da manhã com três ou quatro agentes à porta de sua casa, que não fica no sítio. Eles pediram para falar com sua esposa, faxineira que fez a limpeza da propriedade em nome de Bittar algumas vezes.
Sua mulher, diz, prestou alguns esclarecimentos ainda de pijamas. Segundo o eletricista, os policiais estavam usando roupas camufladas e portavam armas. Eles não apresentaram um mandado ao casal, diz a testemunha.
Lietides afirmou que teve de ir a uma consulta médica. Neste momento, sua esposa teria ligado para ele e avisado que a polícia estava levando ela para o sítio. Os agentes levaram ainda o filho de 8 anos do casal.
De acordo com a testemunha, os agentes questionaram sua esposa se ela conhecia o ex-presidente Lula e para quem trabalhava. Ela teria informado que trabalhava para Fernando Bittar, dono do sítio.
Vieira afirma que sua mulher e seu filho sofreram um abalo gigantesco. “Meu filho faz tratamento piscológico com a pediatra, ele ficou tenso, adoeceu, ele dormia atarracado no meu pescoço por medo”, explicou. “A gente vem de família simples e humilde, a gente não presencia cena assim.”
Já o pedreiro Edvaldo Pereiria Vieira, outro irmão do caseiro Maradona, contou que foi procurado por supostos integrantes do Ministério Público. Ele disse ter se sentido intimidado com a forma como os procuradores o questionaram sobre Lula e o sítio.
Neste momento, o advogado de Fernando Bittar, Alberto Toron, perguntou se o pedreiro foi constrangido. Moro rebateu: “É ilegal, doutor, inquirir a testemunha na casa dela?” O advogado replicou. “Vossa Excelência o dirá no momento próprio. Eu não estou questionando, estou querendo retratar uma situação.”
Moro disse que irá investigar os fatos narrados e deu um prazo de 5 dias para o Ministério Público se manifestar.
Com Carta Capital