A história do país não pode ser contada sem destacar a luta dos estudantes brasileiros. Ainda no período colonial, influenciados pelos modelos socioeconômicos dos países europeus, os filhos da classe alta já traziam na bagagem a indignação diante das situações estabelecidas no Brasil. Segundo Poerner (1979), o primeiro registro de manifestação estudantil foi em 1710, quando os estudantes criaram barreiras para impedir o avanço da invasão dos franceses. Daí em diante, as lutas foram intensificadas, inclusive, para efetivação dos nobres ideais de criação de uma universidade no país.
Já no sombrio período da ditadura militar, a luta estudantil foi contra o regime de opressão. A resistência contra os militares resultou na ordem: “metralhar, invadir e incendiar” a sede da UNE. Foi necessário atuar na ilegalidade. Ainda assim, não faltou aos estudantes a coragem de irem às ruas lutar pela democracia. Com a morte de discentes, em 1968, os movimentos foram intensificados, desencadeando batalhas ainda mais intensas pela redemocratização do país.
Após 58 anos do regime militar, no governo atual, vemos “o presente repetir o passado”. Os estudantes voltam às ruas em defesa da educação e da democracia, contra os ataques aos espaços de promoção à ciência e ao desenvolvimento do país. Os atentados orçamentários às universidades e institutos federais, promovidos pelo governo federal, podam a permanência dos estudantes provocando o caos. Desde a falta de insumos para os bandejões até a energia das universidades foram ameaçadas.
Os sonhos de muitos são dizimados. Meninos e de meninas têm cerceado a esperança de serem os primeiros da sua família a ingressar na universidade. A expectativa de um dia segurar o diploma é tolhida de milhares de brasileiros. Mesmo vivendo em um país em que educação é dever do Estado, o acesso ao futuro de qualidade é impedido pelo desgoverno.
Entretanto, mais uma vez, os estudantes demostram coragem e força. Nesse dia 11 de agosto, jovens brasileiros farão das ruas as suas salas de aula. Em cada esquina deste país grandes tsunamis da educação deverão ser levantados em defesa dos sonhos.
Após a avassaladora pandemia que gerou a maior crise econômica e social da história, mostraremos àqueles que nos categorizam como os seus principais inimigos, que a nossa força vem do conhecimento das verdades que tentam camuflar. Lutaremos pela retomada da vida estudantil. E não daremos um minuto de paz a quem rouba e ataca a educação.
A reconstrução do país passará por nós. As lutas de todos os estudantes que, historicamente, deram suas vidas por melhores políticas públicas sociais, serão honradas. Vamos reverenciar as mãos que produzem ciência, criam vacinas, elaboram tecnologia e fazem arte. Prezaremos pelas batalhas das entidades estudantis, que enumeram grandes conquistas. Daremos novamente ao Brasil a cara dos estudantes negros e negras, que estão nas trincheiras em defesa das cotas. Vamos escancarar as portas, derrubar os muros da universidade e possibilitar o acesso de todos a esse espaço.
Os estudantes marcarão mais um tempo com a virada de chave histórica da cruel realidade que aí está! Serão os nossos rostos que estamparão os livros, apontando a geração que não se acovardou diante do difícil cenário atual. E mais uma vez, a rebeldia consequente vencerá.
Pedro Lucas é presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB)