Em dezembro, Nilton Vasconcelos, secretário estadual de Esporte e Trabalho, completa oito anos de gestão tendo conquistado importantes marcos: permaneceu firme no cargo desde o primeiro dia do Governo Wagner – que iniciou em 2007-, participou da preparação da Copa na Bahia e, ao mesmo tempo, rompeu com a tradição de se concentrar investimentos apenas no futebol.
Esta semana, o secretário inaugurou o Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas, já considerado um dos maiores equipamentos especializados no esporte do mundo. “A tradição é fazer grandes investimentos no futebol, mas nós podemos e devemos investir em outras modalidades”, dispara Vasconcelos, com a convicção de que a distribuição justa dos incentivos vai trazer bons frutos. Os jogos olímpicos de 2016, no Rio, estão aí.
A inauguração do Centro Pan-Americano de Judô é paradigmática, segundo o secretário, justamente porque, ao entregar ao esporte um centro moderno e de referência, se dá o recado: o olhar para as políticas de apoio ao[s] esporte[s] está se transformando e um novo caminho está aberto. A entrevista com Nilton Vasconcelos foi feita na Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), em Salvador. Confira.
O que representa o centro para o judô não só da Bahia, mas do Brasil?
Ele é um centro dedicado a uma modalidade. É o caso do vôlei, em Saquarema, no Rio [de Janeiro], que fez com que o desempenho brasileiro naquela modalidade tenha avançado muito. O judô já é uma modalidade muito premiada, que traz mais medalhas porque são categorias, pesos diferentes e isso, claro, ajuda, mas temos um judô de respeito no mundo. Isso vai ajudar ainda mais, primeiro, o intercâmbio. Pra cá virão atletas do mundo inteiro e da Pan-américa, não só para fazer a climatação, preparação específica para as Olimpíadas [Rio 2016], mas continuadamente. Temos um entendimento com a Confederação Brasileira [de Judô] e com o Ministério do Esporte. O centro só se viabilizou por conta dessa parceria e ela vai se permanecer por 25 anos. Vai sim impulsionar o judô do Brasil, em termos competitivos, de desempenho, nos eventos nacionais e internacionais, sobretudo, e que vai incentivar a prática, de uma forma geral.
Como está estruturado o centro e como será o funcionamento?
Permitirá uma concentração para o judô, ainda que exista uma praia belíssima e tentadora logo à frente [Praia de Ipitanga]. São três edificações: uma específica para alojamento, com 72 apartamentos, inclusive com suporte de lavanderia e restaurante; outro prédio de administração, onde nós temos um auditório, que servirá para palestras, treinamentos, salas de reunião; e nós temos o ginásio, com capacidade para 1900 pessoas, e quatro tatames, o que permite que lutas possam acontecer simultaneamente. Além disso, temos um estacionamento com capacidade para 500 carros, uma piscina que servirá para aquecimento e recuperação, uma quadra poliesportiva e uma pista de corrida. É um centro bem completo e dedicado a todo esse pessoal.
Por que instalar um centro especializado em judô na Bahia?
Temos uma tradição grande [no esporte]. Temos, inclusive, professores que são referência. Eu mesmo pratiquei judô, há mais de 20 anos. O professor Yushida, um professor japonês, esteve na Bahia. É um judô de presença no cenário nacional, mas o determinante foi uma parceria que nós começamos, ainda em 2009, a fazer com a Confederação Brasileira de Judô, que fez com que nós tivéssemos, em 2010, uma copa internacional de Judô aqui. Em 2011, tivemos uma segunda copa e, em 2012, um campeonato individual por equipes, que foi o primeiro. A partir desse campeonato, se viabilizou a permanência de campeonatos mundiais por equipe de judô. Estavam aqui, à época, 32 seleções mundiais e repercutiu muito. Com esse plano e esse investimento que fizemos no esporte, foi se construindo a ideia de ter um centro Pan-americano. Essa obra foi completada em 11 meses, um tempo recorde, pela estrutura, pela característica. É uma obra sóbria, não é luxuosa, mas garante conforto para os atletas.
A construção do centro acontece na véspera das Olimpíadas do Rio, em 2016. É uma maneira de também garantir um melhor posicionamento do Brasil no quadro de medalhas?
Nós temos sempre tradição em esportes coletivos, como o vôlei, o futebol, e normalmente envolve um grande número de recursos em um grande número de atletas, mas para se obter uma medalha. Para os esportes individuais, como é o caso do judô, do atletismo, são muitas oportunidades e um atleta pode, inclusive, disputar vários tipos de prova e isso amplia. Essa ideia da colocação no ranking das medalhas, ao final ,é uma referência que todos querem, mas reflete também uma certa estratégia de países de apoiarem certos esportes que possam render mais medalhas. O Brasil, por sediar, quer melhorar a posição e o Ministério dos Esportes estabeleceu uma meta de estar entre os dez [países] medalhistas. Não é fácil, sobretudo considerando que nas últimas [Olimpíadas], em Londres, estivemos no 22º lugar [17 medalhas]. São esses investimentos, como o feito aqui, que vão permitir que nós avancemos neste quadro. Não se faz atleta de alto rendimento de um dia para o outro. É um trabalho sistemático. Não temos uma tradição, mesmo estando sempre nas Olimpíadas, de estar entre os melhores em número de medalhas, mas, sediando e fazendo a festa, como a que fizemos na Copa, poderemos ter o resultado melhorado. Aqui na Bahia, teremos apenas as eliminatórias do futebol.
Há uma iniciativa, também, de integrar a sociedade ao centro, com programas de aproximação das escolas, por exemplo. O equipamento tem esse caráter para além das competições?
Aqui, nós fizemos, como preparação para o mundial de judô, um tour em cidades como Vitória da Conquista, Juazeiro, Itabuna, Barreiras, e levamos uma trupe que passou nas escolas, fazendo uma exposição e falando do esporte, das medalhas conquistadas. Foi um processo de mobilização e sensibilização. Queremos que, com a permanência do judô aqui, sejam atendidas 400 crianças, especialmente de Lauro de Freitas, mas também da rede estadual, nos programas de iniciação. São os primeiros passos e acredito que vai difundir mais, em academias e na própria escola, essa modalidade.
Você está entre os secretários que mais permaneceram no Governo Wagner. Ter tido esse tempo contribuiu para pensar as ações a longo prazo? O centro será o maior legado material da sua gestão?
Nós tivemos grandes marcos no trabalho e no esporte. Estar desde o primeiro dia no Governo Wagner nos permitiu acumular experiências e fazer planos mais estratégicos. No esporte, o que vai ficar mais emblemático é a Fonte Nova, que foi construída a partir de um contrato da Setre e requereu um conhecimento muito grande, não só do processo construtivo, mas também da modelagem institucional que foi inédita. Pituaçu também foi um equipamento de destaque, que é autosustentável, com o aproveitamento da energia solar. No caso do judô, o centro é uma obra paradigmática. A tradição é fazer grandes investimentos no futebol, mas nós podemos e devemos investir em outras modalidades.
Entrevista ao repórter Erikson Walla
Fotos: Secom-BA