É com muita alegria que venho tornar pública hoje (26/08/24), uma importante decisão que tomei: após minha morte, meu corpo será doado à Universidade Federal da Bahia para fins de ensino e pesquisa.
Fazia tempo que vinha sondando como integrar o projeto – acho que há uns 10 anos – e agora, enfim, já está tudo certo. No dia 21 deste mês, toda a documentação ficou pronta, registrada em cartório.
Minha ideia anterior, devidamente registrada em texto para minha filha, era o corpo ser cremado e as cinzas jogadas ao mar no Porto da Barra, onde ocorreria uma grande festa embalada com muita bebida e frutos do mar, tendo como trilha sonora os grandes sucessos do carnaval da Bahia. Mas ao ler uma reportagem com a possibilidade da doação do corpo, mudei de plano, sem descartar a ideia da festa, que está mantida.
Essa escolha me traz uma grande satisfação, pois sei que estarei dando uma pequena contribuição para ciência e ajudando estudantes a aprender e a se desenvolverem em suas carreiras. Acredito que o conhecimento é um dos maiores legados que podemos deixar, e estou feliz em saber que, mesmo após minha despedida, poderei fazer parte desse processo de aprendizado.
Saber que meu corpo poderá ser utilizado para ajudar na formação de novos profissionais e na evolução da medicina é algo que me enche de satisfação. Estou muito grato à UFBA pela oportunidade de contribuir dessa maneira. Por ser cético, adepto do secularismo e intransigente defensor da ciência contra o misticismo, não haverá nenhum tipo de solenidade religiosa após minha morte. Teremos apenas uma cerimônia da entrega do corpo, momento que celebraremos a vitalidade e a importância da ciência, e quem sabe fazer uma prece/homenagem regada a vinho e uísque ao brilhante cientista norte americano Carl Sagan, a seu conterrâneo, o renomado filósofo Daniel Dennet e também ao biólogo evolucionista britânico Richard Dawkins.
Num momento em que o mundo se vê inundado de pseudociência, de variadas e sofisticadas manifestações de charlatanismo – que consegue atrair até mesmo gente instruída; em tempos de proliferação do fundamentalismo, do obscurantismo; num período em que a ciência é vilipendiada, sistematicamente atacada pela extrema direita, nada melhor do que um pequeno gesto de amor ao conhecimento e à pesquisa.
Imagino que a maioria das pessoas não conheçam o programa da UFBA ao qual aderi. Espero que minha decisão sirva de fonte de divulgação e talvez como estímulo para que outros (as) reflitam sobre a possibilidade de contribuírem com a ciência depois de mortos, assim como eu.
Quero agradecer a minha filha Luma que teve paciência de suportar minha pressão pra agilizar o processo – que não tem nada de complicado, mas requer alguns procedimentos
burocráticos. Agradecer à Lorena, amiga de Luma, bela jovem, ativa militante do PCdoB na área da comunicação, que foi a testemunha oficial da autorização da entrega do corpo.
Faço também um agradecimento especial à professora doutora Telma Sumie Masuko, coordenadora do Programa de Doação de Corpo Transcendendo Além da Vida do
Departamento de Biomorfologia – Instituto de Ciências da Saúde – UFBA, que quando abordada sobre os assunto
por minha filha se dispôs a ajudar e demonstrou satisfação pela nossa disposição para colaborar com a ciência.
Caso alguém queira/precise de informações sobre o programa, basta me procurar.
Escrito por Geraldo Galindo, presidente do PCdoB-BA e, agora, doador de corpo.