Militante histórico do PCdoB e atual presidente da sigla na Bahia, o bancário Geraldo Galindo defende que o PT não eleja o próximo conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), em eleição que deve ocorrer em março, na Assembleia Legislativa. Ele diz que não seria saudável para a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) que os petistas emplaquem a quarta vaga na Corte. Para o dirigente, o deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB) ainda pode se viabilizar.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Galindo, que construiu a trajetória política no Sindicado dos Bancários da Bahia, também critica a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que viabiliza uma segunda reeleição do deputado estadual Adolfo Menezes (PSD) para o comando da Assembleia. Ele ressalta, no entanto, que o PCdoB ainda não tratou da questão.
Além de comandante do PCdoB, Geraldo Galindo também assumiu recentemente a presidência da federação formada pela legenda junto com o PT e o PCdoB no Estado. Como tal, ele fala sobre os critérios para a definição de candidaturas no interior. Nesse sentido, o maior quebra-cabeças a ser montado envolve a escolha do candidato a prefeito de Juazeiro, cidade que representa hoje o principal projeto eleitoral comunista.
Confira a íntegra da entrevista:
Ainda existem resistências na esquerda, sobretudo em partidos como o PCdoB e o PT, à candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) em Salvador?
Olha, o PT, o PCdoB e o PSB, que são os partidos de esquerda que compõem a base do governo de Jerônimo Rodrigues (PT), estão unidos em torno da campanha de Geraldinho. Não há nenhuma dúvida disso. Agora, todo o processo de escolha de candidatos gera algum tipo de trauma, não é? Porque os partidos apresentam seus candidatos e, no final das coisas, tem que indicar apenas um. Mas esses processos são normais, naturais, e eventuais satisfações são superadas com o decorrer do tempo. Então, não há dúvida nenhuma de que esses partidos e suas lideranças estarão unidos com a campanha do Geraldinho.
No PCdoB, a pré-candidata era a deputada estadual Olívia Santana, que segue com declarações que demonstram ainda uma certa insatisfação ou descontentamento…
Nós achávamos que a Olívia era a melhor candidata. Argumentamos isso, mas o governador decidiu pela campanha do Geraldinho. Então, eu repito, era natural que gerasse algum tipo de insatisfação. Mas não há mais. Olivia vai trabalhar para a campanha de Geraldinho, não há dúvida em relação a isso. Então, a insatisfação que ela manifestou inicialmente, eu considero, nós consideramos normal. Ficaram no passado esses pequenos traumas. É a vida que segue. Nós vamos construir a campanha de Geraldinho com unidade no PCdoB e nos demais partidos da frente.
O PCdoB pleiteia estar na chapa de Geraldo Júnior?
Primeiro acho que precisamos definir o perfil. O perfil para a vice de Geraldinho tem que ser uma pessoa de esquerda, não é? Porque ele vem de uma tradição do centro. É do espectro político do centro. Então, para que a chapa contemple esses setores à esquerda, que tiveram seus nomes lançados e não foram contemplados, o ideal é que seja uma pessoa desses partidos, da esquerda, e eu acho que é isso que o Geraldinho está trabalhando. E aí de preferência uma mulher. Tem que ter uma mulher na vice. Hoje, não é mais possível ter chapa sem mulher, não é? E uma mulher negra. Salvador é esse o perfil.
É um perfil da própria Olívia, dentro do PCdoB, mas ela tem dito que não quer. Há outros nomes dentro do partido?
O PCdoB tem quadros para indicar dentro desse perfil, mas não definiu se vai postular a vice. Nós estamos ainda num processo interno de debate sobre o assunto. A deputada Olívia não seria um, a princípio, mas ela vai trabalhar na campanha de Geraldinho. Ela tem outras missões também, como a de trabalhar as candidaturas para vereador do PCdoB, as eleições no interior do Estado.
Hoje o partido que o senhor comanda tem dois vereadores em Salvador. É possível ampliar esse número?
O PCdoB compõe a federação com o PT e o PV, da qual estou na presidência estadual. Então, esses partidos estão debatendo. Ainda estamos numa fase preliminar sobre a composição da chapa de vereadores. Isso não é simples de resolver, vai demandar um certo tempo, mas o PCdoB tem a pretensão de manter a nossa bancada e eventualmente ampliar.
O senhor tem uma trajetória política construída no Sindicato dos Bancários da Bahia, presidido pelo vereador Augusto Castro. Ele tem uma reeleição assegurada?
O vereador Augusto Castro, meu presidente no sindicato, tem feito um excelente mandato e acho que tem todas as condições de ser reeleito, assim como o vereador Hélio (Ferreira). Teremos outros candidatos competitivos e, como disse antes, podemos ampliar a nossa bancada.
Qual será a cota de candidatos do PCdoB no âmbito da federação, já que os três partidos juntos podem lançar apenas 44 candidatos?
Não definiu ainda. Esse assunto aí está em discussão, sobre quantos candidatos cada partido vai apresentar. Existe uma conta matemática na federação que estabelece quantos candidatos cada partido tem direito, entende? Só que isso aí, essa distribuição de vaga do ponto de vista a matemático, pode ser alterado na composição política, entende? Então, estão acontecendo as reuniões das direções municipais desses partidos para chegar ao entendimento. Normalmente o PT, como é o partido maior, mais forte, tem mais candidatos, e os partidos menores, menos candidatos.
Em sua opinião, qual a estratégia que Geraldo Júnior deve adotar para vencer o prefeito Bruno Reis (União)? A aposta será mesmo na nacionalização da campanha, mesmo o presidente Lula (PT) já tendo sinalizado que não deve se envolver na eleição em Salvador?
Bruno não é imbatível, claro. Eu acho que o Geraldinho vai sim convencer a população de que ele representa o grupo político comprometido com as mudanças sociais que a cidade precisa. Ele já está fazendo isso. E, obviamente, apresentar um programa de governo que vai ser debatido aí no decorrer da campanha. Um programa de governo que represente para a população a solução dos graves problemas que a cidade enfrenta. Mas isso aí vai acontecer depois do Carnaval.
O senhor assumiu recentemente a presidência da federação PCdoB-PT-PV na Bahia no ano eleitoral. A tarefa de conciliar interesses dos três partidos é um desafio grande?
Sim. Assumi pouco tempo depois de ser indicado presidente do PCdoB da Bahia, em novembro de 2023, depois de ser vice do atual secretário estadual Davidson Magalhães (Trabalho, Emprego, Renda e Esporte) e de estar na Executiva há mais de 30 anos. Estou no PCdoB há 40 anos, então eu já tinha acumulado experiência suficiente para assumir a tarefa. Sobre a federação, existe um acordo, quando a federação foi montada, de que a presidência, a cada ano, seria ocupada por um dos três partidos. Então, no ano de 2023, o PT ocupou, com Éden Valadares, presidente do partido na Bahia. Em 2024 é a vez do PCdoB e depois será do PV. Isso em nível nacional e nos municípios também. Sobre as eleições, a federação estabeleceu o seguinte: nas cidades onde esses partidos estão organizados, a federação deve se reunir e tentar unificar as candidaturas (a prefeito). Caso não haja unificação, esse assunto será resolvido pela federação estadual, pelos presidentes dos três partidos. A gente pede que, antes disso, os debates sejam esgotados nos municípios, mas, se não houver entendimento, decidimos na estadual.
Esses são os casos de Jacobina e, principalmente, de Juazeiro, cidade onde os três partidos têm pré-candidatos?
É o caso de Juazeiro, que é emblemático nesse sentido. Ele vai exigir da federação, do conselho político do governo do Estado, um esforço grande. No momento não existe uma solução fácil para resolver a questão de Juazeiro, porque existe uma polêmica sobre a viabilidade jurídica do candidato do PT (o ex-prefeito Isaac Carvalho), tema que está pendente nas candidaturas do deputado estadual Zó (PCdoB) e do deputado estadual Roberto Carlos (PV). São três nomes fortes na cidade que compõem a federação, e a solução terá de ser encontrada em algum momento, mas não deve ser resolvida no curto prazo. Se não resolver lá, terá que ser resolvido aqui por nós e pelo conselho político. Há outros casos problemáticos em cidades menores, com três ou duas candidaturas da federação, mas o mais importante é Juazeiro. No caso de Jacobina, por exemplo, tem a candidatura do prefeito Thiago Dias, do PCdoB, e o PT tinha um nome (da dentista Mariana Oliveira, que deixou o partido recentemente). Mas o critério que o conselho político do governo do Estado estabeleceu é que candidatos a prefeito que apoiaram Jerônimo (em 2022) e que estão no atual mandato devem ser apoiados. É o candidato natural. E essa lógica tem que ser aplicada em todos os municípios, inclusive em Jacobina. Como presidente do PCdoB, digo que Tiago é um candidato natural à reeleição, e isso já acontece com dezenas e dezenas e talvez até centenas de prefeitos que apoiaram o Jerônimo. Então, ele é um candidato do PCdoB à reeleição, e vamos tentar convencer os demais partidos a apoiá-lo. É mais uma situação que vai exigir muito esforço do conselho político do Estado e da federação. Jacobina é a maior cidade que o PCdoB hoje administra, das 16 que temos prefeitos na Bahia. Então, no geral, a gente está à frente de prefeituras com população pequena. Por isso Jacobina é importante para nós. Agora, o nosso principal projeto eleitoral é Juazeiro.
Uma outra eleição vai acontecer em março, que é a escolha, pela Assembleia Legislativa, do novo conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Do PCdoB, o deputado Fabrício Falcão vai conseguir inscrever a candidatura? Houve traição do governador Jerônimo Rodrigues (PT) com o partido, uma vez que haveria um acordo de que essa vaga seria da legenda do senhor?
Vou falar como presidente do PCdoB, e não da federação. Foi feito um apelo do governo, do governador, para a retirada da candidatura de Fabrício Falcão ano passado (para apoiar a candidatura ao TCM da ex-primeira-dama Aline Peixoto). E foi feita uma sinalização, um acordo, um acerto, de que a próxima (vaga) seria do PCdoB. Então, quando chegou agora, que a gente achava que ia ser, aí aparece outra candidatura do PT. Nós não achamos que é prudente que quatro dos sete conselheiros do TCM sejam do PT. Isso aí gera uma distorção política no que diz respeito à proporcionalidade na base do governo, entendeu? Assim, nós vamos levar a candidatura de Fabrício até o final. Apoiamos o governo, mas nós temos a nossa autonomia política. Nós não consideramos justo, correto, que o PT, já com três conselheiro no tribunal, de um total de sete, ainda indique mais um, entende? Não é correto isso. E o PCdoB é um aliado histórico no PT, e não pode ser tratado dessa maneira, deixado em segundo plano.
O senhor é a favor que a Assembleia aprove a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a segunda reeleição consecutiva do presidente da Casa, Adolfo Menezes (PSD)?
Olha, o partido não tomou uma posição ainda sobre isso. Agora, dando uma opinião aqui pessoal, a princípio eu não vejo com simpatia essa formulação de reeleição na Assembleia. Já houve uma PEC para acabar com a reeleição. Então, aí se cada momento aparece uma PEC para atender a conveniência do momento, fica uma situação um pouco inusitada. Mas nós não deliberamos sobre esse assunto ainda.