A seção Bahia do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) tem um novo presidente: o bancário, escritor e ex-vice-presidente Geraldo Galindo. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (15/11) por delegados (as) de todo o estado que participaram da Conferência Estadual do Partido, realizada desde terça (14), no Hotel Quality, em Salvador.
Considerando um dirigente experiente, discreto, abnegado, bem-humorado e referência de militância, Galindo vai suceder o presidente cessante Davidson Magalhães, de quem foi vice, pelos próximos dois anos. Para a nova gestão, a cientista política Daniele Costa, que também é secretária nacional de Mulheres, foi eleita para a vice-presidência.
Neste ano, o novo presidente do PCdoB-BA completa 40 anos de militância (1983-2023). Galindo é mineiro do município de Montes Claros, no norte daquele estado, bem próximo da divisa com a Bahia. Pela proximidade geográfica, sempre visitava um tio que morava na capital baiana, até que decidiu fazer um concurso para ocupar uma vaga do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) em Salvador, e passou.
A chegada à Bahia aconteceu em 1977, mas não foi definitiva. Em 1980, ele foi transferido pelo BNB de volta para Minas, mas lá lutou para retornar à terra do carnaval, uma das suas paixões – junto com o Atlético Mineiro, as viagens pelo mundo e a escrita sobre as liberdades. Conseguiu o retorno em 1983, o ano em que justamente tomou duas grandes decisões: o ingresso no movimento sindical bancário, após contato com a oposição, e, em seguida, a filiação ao PCdoB baiano.
No Sindicato dos Bancários da Bahia (SBBA), Galindo assumiu diversas pastas, mas se destacou na de Comunicação. No PCdoB, presidiu o distrital do Centro de Salvador, quando ainda não havia o Comitê Municipal da capital baiana, que, posteriormente, foi construído graças à atuação protagonista dele. Elegeu-se como o 1º presidente do PCdoB-Salvador e teve papel protagonista no avanço e consolidação da atuação comunista na cidade.
O desempenho destacado de Galindo na política e no movimento sindical, naquele início da década de 1980, provocou uma ascensão meteórica na carreira do jovem dirigente. Tão logo, passou a assumir tarefas também no Comitê Estadual do Partido, onde passou por quase todas as secretarias (Finanças, Movimentos Sociais, Sindical, Organização, Juventude e Comunicação), até assumir a vice-presidência. Chegar à presidência passou a ser um caminho natural na trajetória militante.
Pelo respeito adquirido na Bahia, o mineiro recebeu o título de cidadão baiano pela Assembleia Legislativa do Estado (AL-BA). Agora, além de fato, Galindo é também de direito um filho da terra.
Perfil dirigente
Galindo é uma referência para a militância comunista, o que muitas lideranças fazem questão de repetir, em diversos espaços e ocasiões. Uma delas é a deputada federal Alice Portugal, que há muitos anos convive com novo presidente. Para a parlamentar, ele é quase uma unanimidade interna, e se notabilizou por ser, além de experiente, um dirigente equilibrado e amoroso.
“Galindo é alguém que o Partido ama, que nunca migrou para o campo institucional, mas que é um dirigente consagrado”. A declaração de Alice aconteceu no primeiro dia da Conferência Municipal do PCdoB em Salvador, realizada no último final de semana de outubro. O público do evento ouviu as palavras da deputada fazendo diversos movimentos de balanço de cabeça, em sinal de concordância.
Não disputar cargos eletivos e espaços na institucionalidade revela não só o perfil discreto do novo presidente, mas também uma opção pela dedicação exclusiva à gestão partidária. Um trabalho de bastidores que já soma quatro décadas, conhecido e reconhecido pela militância comunista.
Do perfil do novo presidente, o deputado federal Daniel Almeida, que também já ocupou a presidência do PCdoB-BA, destaca a inteligência, a habilidade de pacificação e o espírito prático. “Em todas as tarefas que assumiu, se empenhou e produziu bons resultados. Tem uma visão larga da política, a capacidade de ouvir as pessoas, de ouvir as instituições, de se movimentar com desenvoltura, sempre buscando agregar, sempre buscando a unidade no partido e das forças políticas que ele tem a tarefa de fazer interlocução”, defendeu.
Para o parlamentar, o perfil dirigente de Galindo é um exemplo a ser seguido, especialmente porque nunca posiciona os interesses individuais acima dos coletivos.
Sucessão
Davidson Magalhães faz coro aos elogios a Galindo e vê com otimismo a sucessão, que, para ele, é natural. Segundo ele, o novo presidente é um quadro experiente, fundamental na construção partidária. “O PCdoB está em mãos seguras para dar continuidade a essa trajetória de crescimento e fortalecimento na Bahia, ajudando a luta política no Brasil, com a nossa participação e com o entusiasmo da nossa militância”, disse.
Desafios
Um dos principais desafios da gestão Galindo/Daniele será a construção do projeto para as eleições de 2024, primeiro pleito municipal com a validade da federação partidária. Ao final da Conferência, o novo presidente agradeceu a confiança a ele depositada e garantiu que a questão eleitoral vai ser tratada com muita atenção.
“O processo de elaboração da tática eleitoral do Partido nos municípios vai ter o acompanhamento direto da direção. Não podemos falhar!”, disse Geraldo Galindo, logo após a proclamação do resultado da sua eleição. Falou pouco – e fez questão de dizer que prefere não aborrecer ouvintes com discursos longos -, mas foi o suficiente para empolgar um coletivo inteiro.
A firmeza com que Galindo dá garantias e esperanças à militância não é mera retórica, mas a segurança de uma experiência acumulada ao longo de 40 anos. Galindo é parte daqueles que, sem alarde, fazem o que precisa ser feito.