Mais de 10 mil agricultores e agricultoras familiares ocuparam as ruas de Brasília nesta terça-feira (21) com suas bandeiras, bonés, faixas, cartazes, vozes e cantigas defendendo que a “Agricultura familiar é alimento saudável e conservação ambiental”. Esse foi o tom do encerramento do 24º Grito da Terra Brasil, organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), Federações e Sindicatos filiados. A caminhada de seis quilômetros até a Esplanada dos Ministérios e o ato de encerramento contou com a presença de ministros, representantes do governo federal e de parlamentares.
Vice-líder do governo no Congresso, o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), acompanha a luta dos trabalhadores rurais desde que chegou ao Parlamento, há 22 anos. Segundo ele, essa é uma luta permanente, e os avanços surgem, porque não há descanso de nenhuma parte. “O que a gente conseguiu avançar foi a partir da nossa luta, da nossa organização. Avançamos combinando a luta lá do campo, com a luta política. Mas não seria possível produzir avanços se nós não tivéssemos tido a capacidade de eleger alguém como Luiz Inácio Lula da Silva, que nos ouviu e encaminhou as reivindicações do movimento”, apontou o parlamentar.
Durante o evento, ministros do governo Lula subiram no carro de som para dar respostas às demandas dos trabalhadores do campo. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, anunciou uma série de programas de fomento e assistência. Entre eles, o Programa Fomento Rural: Bem Viver Semiárido e Centro-Sul; a 3ª etapa do Projeto Dom Helder Câmara, que beneficiará 30 mil famílias com assistência técnica e extensão rural; Farmácias Vivas, para ampliar o uso de plantas medicinais produzidas pela agricultura familiar; a inclusão da agricultura familiar no Plano de Adaptação à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática; crédito fundiário de R$ 197 milhões para garantir acesso à terra para as 595 famílias agricultoras da Fazenda Uruanan (CE); 49 editais para assentar 6.279 famílias agricultoras pelo país; emissão de documentos e medidas de apoio aos agricultores do Rio Grande do Sul; entre outros.
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, também participou do evento e assinou a portaria instituindo o Grupo de Trabalho com o objetivo de estruturar espaços institucionais para a política de juventude no campo.
Para a secretária de Política Agrícola da Contag, Vânia Marques, os anúncios foram importantes, mas a mobilização continuará em defesa da estruturação da agricultura familiar no Brasil. “Vamos seguir em mobilização, aguardando o Plano Safra e negociando com os ministérios. É fundamental a luta da classe trabalhadora e da participação da Contag nesse processo. Nós saímos daqui alegres, com sentimentos de gratidão, mas também seguimos lutando pela estruturação da agricultura familiar, por políticas públicas e fortalecimento da classe trabalhadora no campo.”
Segundo o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adílson Araújo, o governo precisa olhar cada vez mais para a agricultura familiar. O dirigente sindical lembrou que a agricultura familiar responde por 3,9 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil e ocupa 23% das áreas cultivadas do país. Responde também por 23% do valor bruto da produção agropecuária e por 67% das ocupações no campo. No entanto, ainda recebe investimento significativamente menor que o agronegócio.
“Enquanto o governo destina R$ 364 bilhões para o agronegócio, destina apenas R$ 77,7 bilhões para a agricultura familiar, que é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Há que se rever isso, porque grande parte do agro produz apenas para exportação, enquanto os pequenos produtores alimentam a família brasileira”, argumentou Araújo.
Texto: Christiane Peres, PCdoB na Câmara