Gosto de rolês aleatórios quando se trata de leitura. Creio que uma boa leitora se faz pela abertura a diversos temas e nomes. Faço essa introdução porque me lembrei de uma entrevista, que li há alguns anos, com a filósofa húngara Agnes Heller. Sobrevivente do Holocausto, a pensadora me impactou bastante quando questionada sobre a revolução das mulheres. Ela cravou: é a maior revolução de nosso tempo porque não se trata de uma mobilização contra um período histórico, mas contra todos os períodos.
A filósofa faleceu aos 90 anos, em 2017, mas suas palavras continuam por aí e me inspiram como cidadã e mulher. A revolução de nós mulheres ainda não está aqui plenamente, mas está em curso e é um caminho sem volta. Palavras de Heller que soam como profecia.
E que jornada, minha gente. No Brasil, somos a maioria da população e do eleitorado, mas amargamos sub-representações em câmaras, prefeituras, governos estaduais, no Congresso Nacional e em inúmeros espaços públicos e privados. Na política, são barreiras graves como a falta de investimentos em carreiras femininas e muita violência contra mandatos de mulheres – não esqueçamos jamais de Marielle Franco.
Ainda assim, perseveramos. Sustentadas e fortalecidas pelos legados de mulheres brilhantes que nos precederam, vamos abrindo o caminho, conquistando aliados entre os homens e tomando o nosso lugar de direito nos espaços de poder e na centralidade dos debates públicos. Não é no tempo que gostaríamos e necessitamos, eu sei. Mas a jornada é contínua e recheada de capítulos.
Um deles vai acontecer neste ano. Eleições municipais em todo o país. Um momento de intensificação da luta pela revolução das mulheres, de empoderamento feminino. Não aquele criado pela publicidade para nos vender uma infinidade de produtos. Estamos falando de empoderamento como nos ensina a arquiteta, psicóloga e escritora Joice Berth [mulher maravilhosa]. Empoderamento como uma ferramenta de emancipação política e social para alteração da lógica atual, que é perversa, desacredita, fere e mata mulheres. Estamos falando de assumir uma postura de enfrentamento às opressões e injustiças e a busca por uma sociedade com condições dignas de vida não só para as mulheres, mas para todos. E a política é uma dessas ferramentas, bastante poderosa.
Esse não é um texto de certezas, por isso o encerro com uma provocação: seremos apenas testemunhas ou agentes impulsionadores do avanço das mulheres nos espaços de poder?
Escrito por Luciana Oliveira, jornalista, servidora pública e mulher na política.