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Artigo: “Panela Vazia: quando a resistência desfilou no carnaval”

7 fevereiro, 2025

No início dos anos 80, Salvador vivia tempos intensos. A ditadura ainda se fazia presente, mas as ruas já pulsavam com o desejo de mudança. A cidade, sempre marcada por sua efervescência cultural e política, foi palco de um dos episódios mais emblemáticos da resistência popular: o movimento contra a carestia.

Em meio a esse cenário, um grupo de militantes do PCdoB buscava formas de manter a luta viva. O quebra-quebra de ônibus em 1981 havia sido uma explosão de revolta popular, um grito contra a inflação descontrolada e a miséria que atingia as periferias. Mas, depois da tempestade, veio a necessidade de reorganização. Como manter a mobilização? Como seguir pressionando o governo militar?

A resposta surgiu onde menos se esperava: no carnaval.

Até então, os comunistas baianos viam a festa com certo distanciamento. Para muitos, era apenas um instrumento de distração das massas. Mas ali, naquela virada de década, a militância entendeu que o carnaval poderia ser algo muito maior — um espaço de disputa, um campo de batalha simbólico onde a luta contra a carestia poderia continuar.

Foi assim que nasceu a ideia de um bloco de carnaval engajado, um cortejo que levasse a política para o meio da folia. O PCdoB, que já havia se enraizado nos bairros populares organizando associações comunitárias e movimentos por moradia, agora se lançava nas avenidas da cidade com um trio elétrico, bandeiras e palavras de ordem.

O primeiro ano foi um verdadeiro teste de resistência. O trio elétrico atrasou, os equipamentos falharam, e a estrutura improvisada mostrou suas dificuldades. Mas nada disso impediu que a marcha acontecesse. Com faixas, cartazes e muita disposição, a militância tomou as ruas, misturando-se aos foliões, levando a mensagem de que a luta continuava, mesmo nos dias de festa.

Nos anos seguintes, o bloco se tornou símbolo de uma nova forma de militância, aproximando o partido das massas em um momento em que era preciso “botar a cara”, ser mais ofensivo, ocupar os espaços públicos. Mas o carnaval também estava mudando. Aos poucos, a festa se transformava em um grande negócio, uma indústria milionária que pouco a pouco engolia as manifestações populares espontâneas.

Foi assim que, por volta de 1988, o bloco chegou ao fim. O cenário já não era o mesmo, e a luta, para continuar viva, precisava encontrar outros caminhos. Mas a história daquele tempo ficou gravada na memória de quem viveu.

E é exatamente essa memória que o professor e historiador Ricardo Moreno, que estuda esse período, quer resgatar. Ele destaca a importância desse movimento: “O Panela Vazia foi uma estratégia ousada, que mostrou como a luta política pode se inserir nos espaços mais improváveis. Foi um momento em que a resistência dançou, cantou e mostrou que a história se faz onde o povo está”.

Ajude a reconstruir essa história!

Se você tem informações, fotos, registros ou relatos sobre o bloco Panela Vazia, entre em contato com a assessoria de comunicação do PCdoB ou diretamente com o professor Ricardo Moreno.

Acesse o formulário AQUI e contribua para manter viva essa memória de luta e resistência!

 

Autora: Gabriela Marotta, jornalista e assessora de comunicação do PCdoB-BA. O texto acima foi produzido a partir de entrevista prévia com o professor Ricardo Moreno, a quem agradecemos a história.
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