A declaração de Luisa Sonza sobre a traição do namorado mobiliza as redes sociais. A maioria são opiniões de apoio à cantora ou mesmo de constatação de que o seu ex fez – como disse o youtuber Casimiro em live no twitter. Óbvio que ela teve oportunidade única de expor o seu sentimento e atitude. Não é todo mundo que consegue um espaço como esse. Poucas mulheres o teriam.
Além da oportunidade, grande parte das pessoas optaram por outros temas envolvendo a vida cotidiana para tratar num programa de grande audiência, se conseguissem chegar lá.
Outras pessoas ainda, pensando na privacidade, optariam por não expor fatos da sua vida. E mais, há aquelas que consideram o tema não relevante. Acontece tudo isso junto e misturado. Mas de fato, a declaração de Luísa Sonza, além de ser um direito dela, contribui sim.
Parece não ser somente a exposição de um fato que impactou o seu sentimento, mas também ser intencional alcançar as mulheres que passam por igual circunstância. A declaração revela elementos que devemos ter em conta. Em primeiro lugar, traz a questão de não normalizar fatos desse tipo e que têm a ver com a ideia de que o homem pode tudo. Entendo que em uma relação pode acontecer ter atração por outra pessoa. Mas para por aí ou rompe.
Não dá pra normalizar quebra de confiança, do combinado. Outro aspecto é que a declaração de Sonza se refere ao fato de que, na maioria das vezes, a mulher começa a se recriminar por ter acreditado em mentiras. Pode acontecer também que a mulher passa a ter afetada a sua autoestima, se culpando por não estar à altura do relacionamento.
Por outro lado, há ainda a clássica reação do homem em dizer que a mulher está louca, que esta inventando, e que frequentemente resvala para violência psicológica. Mas a questão que eu considero que mais se destaca na declaração de Sonza é a atitude de romper o ciclo de envolvimento psicológico diante da quebra de confiança, respeito, de amor. Não são poucas as mulheres que se mantêm em um relacionamento no qual são sucessivas as traições, violência psicológica e outras.
E que ainda assim, têm dificuldade de romper. Sem dúvida não é porque gostam da situação. Estar num relacionamento onde não há respeito e confiança gera adoecimento mental. Às vezes as mulheres nessa situação não têm alternativa pela dependência econômica ou foram educadas a suportar esse tipo de relação dentro de uma visão retrógrada que se reproduz nesse mundo do patriarcado. Assim, o tema da declaração de Sonza pode ser banal no sentido corriqueiro, mas é relevante!
*Escrito por: Julieta Palmeira, médica, ex-secretária da Política para as Mulheres do Estado da Bahia e assessora no Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil (MCTI).