ulieta Inês Hernández Martínez foi estuprada e assassinada em nosso país. A artista venezuelana, que integrava o grupo de mulheres artistas e cicloviajantes Pé Vermêi, percorria o Brasil de bicicleta desde 2015, e teve interrompida a sua jornada no estado do Amazonas, quando retornava para o seu país.
A palhaça Miss Jujuba, que participava de um grupo de mulheres circenses que se denominava Circo di Sóladies, não mais vai despertar o sorriso, expressar a alegria e a empatia de quem gosta de gente. Julieta Hernández era muitas coisas.
Sair nesse mundão sozinha, pedalando, significava gostar de ciclismo, mas, principalmente, ir atrás de um sonho. E a cada encontro com pessoas e culturas, ela se revigorava, ela enriquecia a sua jornada e ia assumindo tudo que lhe fazia bem, como é o caso de ser a palhaça de rua Miss Jujuba ou a fazedora de bonecas ou a realizadora de oficinas de arte.
Eu me emocionei especialmente com o fato. Temos o mesmo nome, mas a minha emoção tem a ver com o que ela representa sobre a busca de realização de nós mulheres, que não pode ser limitada. Não pode nos ser subtraído o direito de andar ou pedalar sozinhas, de ir e vir e encarar os desafios autonomamente para concretizar nossos sonhos e objetivos na vida.
Ter objetivos é um direito que não pode nos ser negado. Mas a sociedade patriarcal nos destina um lugar social de subalternidade e de dependência dos homens.
Andar sozinha tem a ver com ela ter sido estuprada e assassinada?
A maioria dos feminicídios no Brasil são fruto de violência doméstica e familiar. É no domicílio que as brasileiras estão mais vulneráveis, local onde teoricamente as mulheres deveriam estar mais “protegidas”. Mas, e se formos nos restringir a ficar somente em ambientes tidos como seguros? Que existência será essa? Uma existência de restrição e de medo.
De fato, Julieta Hernandez foi estuprada e assassinada não por ser uma artista nômade, como ela se denominava, e percorrer o país pedalando sozinha, mas por ser mulher. É a sociedade patriarcal que precisa mudar. Ela nos ameaça a vida. Por ora, que se faça justiça.
Em declaração sobre o assassinato de Julieta Hernández, o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), que a encontrou pela primeira vez na rodoviária de Picos/Piauí, expressou o desejo de todas nós: que a Floresta Amazônica possa ecoar o riso, a alegria e a liberdade de toda mulher que se sonha livre.
E uma integrante do grupo Circo di Sóladies, a Palhaça Rubra divulgou “Uma Canção Para Julieta Hernandez”, que num trecho diz: “Sonha, sonha. Somos sonho dela. E ela sonha. Sonhar é a nossa. Vida dela será nossa… a sonhar. Julieta está!”
Há de chegar o dia em que nós mulheres possamos ter vida plena e equidade de gênero!